RL ENTREVISTA: De volta aos primórdios, Plebe Rude lança novo álbum com músicas escritas nos anos 80 ~ Curte Rock

Uma banda nascida durante a ditadura militar brasileira, que assistiu todos os absurdos cometidos, se posicionou contra os anos de chumbo, testemunhou a reabertura do país e continua mais punk do que nunca mesmo após 37 anos de carreira. Essa é a Plebe Rude que está de disco novo, “Primórdios”, somente com músicas escritas entre 1981 e 1983.

Nesse bate papo, Clemente, guitarra e voz da Plebe Rude, fundador do Inocentes e padrinho do punk rock brazuca, conta tudo sobre o disco, a época que as músicas foram concebidas e sentencia: “Esses caras da direita não entenderam nada!”

Como surgiu a idéia de gravar esse “novo-velho” disco?
Num ensaio alguém puxou algumas velhas canções e percebemos o quanto elas eram atuais, fizemos um levantamento e várias músicas que faziam parte do repertório de shows da Plebe de 1981 a 1983 não haviam sido gravadas e tinham muitas muito boas e que mereciam um registro decente e aí nasceu o “Primórdios”.

O “Primórdios” é um disco composto por canções escritas entre 1981 e 1983. Vocês tiveram a preocupação de gravá-las exatamente como elas foram escritas ou deram uma modernizada nos arranjos?
Mantivemos os arranjos os mais originais possíveis, mas havia algumas coisas que você com o tempo acaba aprendendo a fazer de um jeito mais bacana. Mantivemos até solos longos em introdução de música que o Philippe reproduziu do mesmo jeito que ele fazia em 1982! *risos*

E como foi a gravação, já que é um disco ao vivo?
Cara, gravamos num lugar pequeno como eram os lugares que a banda tocava na época, tentamos reproduzir o clima de casas como o Napalm e o Rose Bom Bom (casas de shows de São Paulo dos anos 80 por onde passaram praticamente todas as bandas do rock nacional). Foi uma parceria com o Showlivre e, com isso, fizemos um produto exclusivo para o YouTube.

Nessa época você não fazia parte da Plebe Rude e, ao mesmo tempo, você é um dos “padrinhos” do punk rock brasileiro. Mesmo não fazendo parte da banda, foi uma emoção diferente pra você gravar essas músicas agora?
Cara, eu conheci a Plebe em 1983, foram essas músicas que eu ouvia nos shows, depois elas se perderam, pra mim foi como reencontrar um velho conhecido, muitas dessas canções eu já sabia até a letra *risos*

As músicas do “Primórdios” foram escritas na época da ditadura militar e elas vem a luz agora em um momento em que um candidato a presidente diz que não houve ditadura e sim uma “intervenção democrática”. Isso faz com que essas canções tenham ainda mais força?
Com certeza! Esses caras querem simplesmente apagar a história e tem um monte de idiotas achando isso demais. Na época da ditadura as canções não podiam ser explícitas, tínhamos que deixar tudo sub entendido e queimar a cabeça para atacar o sistema e burlar a censura. Definitivamente, esses caras da direita não entendem nada! *risos*

A Plebe Rude nasceu durante a ditadura e também viveu a reabertura do país aos exilados pelo exército. Como vocês enxergam o Brasil hoje e toda essa situação política pré-eleição presidencial?
É uma situação política complicada, mas também uma boa oportunidade para iniciar a mudança do que está aí, não podemos pensar só no executivo, mas também no deputados estaduais, federais, senadores esses caras que podem inviabilizar todo o processo democrático, o presidente e o governador não são as únicas peças que podem fazer isso.

O disco está disponível em todas as plataformas de streaming e o show da gravação no YouTube. Para uma banda acostumada a lançar material físico, essa transição para o digital foi complicada?
Nada, tudo isso é ferramenta que viabiliza o consumo de música, mas claro que vamos lançar um CD do Primórdios e talvez um vinil, pois as pessoas estão consumindo em todas as plataformas. Hoje em dia você não viaja mais com um walkman e sim com um fone para ouvir música no seu celular e todo mundo já acha óbvio isso, a gente seria idiota se remasse contra a maré. *risos*

Teremos uma turnê baseada no “Primórdios”? Quais são os planos da banda agora?
Já estamos desde o começo do ano excursionando tocando o Primórdios enquanto preparamos um álbum de inéditas que deve sair em 2019. A Plebe não pára, estamos cheios de ideias e coisas a dizer e isso é muito bom.

A pouco tempo atrás, você lançou o livro “Meninos em fúria” escrito em parceria com o Marcelo Rubens Paiva. Como foi a experiência? Pretende repetí-la?
Não só eu pretendo repetí-la mas o Philippe já está escrevendo o dele, aliás, foi por isso que começamos a rever umas músicas velhas (por causa do livro do Philippe) e aí nasceu o projeto Primórdios. Eu quero fazer um só meu, vou começar a me dedicar a isso. Mas a experiencia com o Marcelo foi super legal, rever o passado e aprender a escrever livros. *risos* E o mais legal é que cada vez vejo mais gente com o livro, isso é um bom sinal! *risos*

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