RL ENTREVISTA: Titãs fala sobre a ópera-rock “Doze Flores Amarelas” e reafirma seu pioneirismo na música nacional

Mais de 30 anos de carreira e uma vontade de ser novidade para os outros e principalmente para si mesmo. Essa é a sensação que se tem quando se está a frente dos Titãs, ouvindo-os contar os detalhes da nova empreitada da banda: uma ópera rock, até então inédita em nosso país. Tivemos a sorte de estar cara-a-cara com o grupo paulista, que há muitos anos tem tocado o seu rock e o rock brasileiro sempre avante, e perceber como “Doze Flores Amarelas”, mesmo emblemática e forte, trouxe novos ares. Sérgio Britto, Tony Bellotto e Branco Mello nos contaram detalhes da concepção do projeto, como foi viver o palco sob um ângulo mais teatral e sobre sentir o entusiasmo do início da carreira mais uma vez.

Elenco de “Doze Flores Amarelas”

Narrada por ninguém menos do que Rita Lee, a ópera-rock dos Titãs foi inspirada em exemplos internacionais (como “Tommy”, do The Who, “The Wall”, do Pink Floyd, e “American Idiot”, do Green Day), mas ainda assim se faz única. Ela foi interpretada desde o início e fugiu do tradicional lançamento de álbum que precedeu os projetos gringos.

“Quando a gente foi gravar as falas da Rita Lee, ela falou ‘Ninguém nunca tentou fazer isso aqui, né? A gente gosta de fazer coisas que nunca foram feitas.’ E eu acho que é verdade, porque a gente se sente desafiado. Essa coisa de fazer algo que nunca foi feito, nunca foi experimentado, te dá uma vertigem, você corre riscos, mas também te dá um prazer enorme. Reacendeu uma chama quase que de início de carreira e pra gente, que tem tantos anos de estrada, isso é muito importante,” comentou Sérgio Britto.

“Sai do tradicional disco, do conceito de um álbum, e a gente acabou envolvendo várias pessoas de várias áreas diferentes, do teatro, do cinema, da literatura… Então, a gente acabou transitando em uma área muito maior e muito mais abrangente do que o nosso universo da música e isso foi muito rico,” complementou Branco Mello.

“Doze Flores Amarelas” foi gravada em maio deste ano e trouxe ao público a história das três Marias, três garotas que são sexualmente violentadas em uma festa e decidem se vingar de seus agressores através do feitiço das Doze Flores Amarelas, que batiza o projeto. Nas entrelinhas, não só a condição da mulher em nosso cotidiano é abordada, mas também outras “agonias” que assistimos diariamente em nossa sociedade. Mas cantar as nossas questões cotidianas nunca foi trabalho duro para os Titãs, na verdade é algo que está do DNA dos caras:

“Os Titãs têm como tradição e característica essa coisa de sermos meio que cronistas sociais do que está acontecendo. O nosso primeiro disco, que foi muito bem sucedido, o ‘Cabeça Dinossauro’, era um pouco isso. A gente sempre fez questão de não se colocar de maneira ‘panfletária’, não falamos dos assuntos como se a gente estivesse por cima e querendo fazer uma coisa ‘professoral’. A gente fala do ponto de vista de quem tá vivendo aquilo e sentindo as coisas que estão acontecendo e realmente na ópera-rock veio um pouco dessa ideia. Quando a gente sentou para discutir ‘do que a gente ia falar’, pensamos nesse mundo que a gente vive, a questão da internet, dos aplicativos, da dependência que gente acaba tendo (dessas coisas),” explicou Tony Bellotto.

“Nós falamos muito mais do que só sobre o abuso sexual. Falamos de drogas, da relação entre pais e filhos, de paixão, de amizade. Se você for parar pra pensar, é muito rico esse universo que uma ‘história’ te proporciona. O enredo da história é simples, mas você pode falar de muitas coisas, então acho que isso enriquece muito. A gente sempre tratou de assuntos e fez canções com temas pouco usuais, por assim dizer. Acho que é um exercício nosso e que curiosamente a MPB antigamente fazia muito – marchinhas de carnaval, samba, Noel Rosa – e hoje em dia menos, então acho que até chama atenção o fato da gente fazer isso,” disse Sérgio.

Outro ponto importante da narrativa dos Titãs é trazer o rock, mais uma vez, à sua posição questionadora, como explicou bem Tony Belloto:

“Eu acho que reafirma uma (característica) do rock também. Uma capacidade que anda meio escondida, meio camuflada, que só o rock tem de falar certas coisas e da maneira como ele fala. O rock é legal porque muitas vezes você está falando uma coisa absurda e o ritmo é dançante. Você tá dançando ao som de uma denúncia! Então é legal a gente conseguir privilegiar as qualidades que o rock tem no momento em que ele entrou numa ‘gaveta a mais’ dos tipos de música. Não! O rock tem uma importância, porque ele fala sobre certas coisas de um jeito único,” complementou.

A primeira ópera-rock brasileira se divide em três atos e, além dos próprios membros da banda, conta com atores e atrizes que dão o toque mais teatral e a deixam ainda mais grandiosa. Entretanto, a fusão do som visceral dos Titãs com esta linguagem dos palcos não foi tarefa árdua para os músicos, que afirmam que tudo nasceu e se desenvolveu naturalmente e ainda permitiu a criação de arranjos pouco comuns para eles.

“Não foi tão difícil, porque acho que tudo parte das canções e do que você quer dizer e a gente sabia que não iria fazer algo tradicional,” comentou Britto. “A gente trouxe alguns elementos de ópera-rock, opereta de musical. Tem coisas que são só com piano e voz, tem uns interlúdios instrumentais que fazem as ligações entre as canções e que dão esse aspecto. Tem uma música que se chama ‘Ele Morreu’, que é um diálogo e só tem um groove de baixo, bateria e piano. Então, a gente trouxe esses elementos de musicais pra perto do nosso rock and roll, que é algo que acho que a gente já sabe fazer e tira de letra. E acho que essa mistura não foi tão complicada de fazer porque é uma história ‘montanha-russa’, então tem momentos de raiva, de revolta, tem momentos mais líricos, tem momentos tenebrosos de suspense… Então tudo isso, musicalmente, já te sugere muita coisa. Abre esse leque grande de possibilidades e tudo faz sentido por causa da história, não fica gratuito. É como uma trilha-sonora.”

Bellotto ainda lembrou que esta não é a primeira vez que os Titãs se envolvem em algo do tipo. Anteriormente, Branco Mello já havia trabalhado com o diretor Hugo Possolo (responsável pela montagem de “Doze Flores Amarelas) em “Eu e Meu Guarda-Chuva”, que segundo ele é “uma ópera-rock infanto-juvenil”. Além de Possolo, o diretor Otávio Juliano, responsável pelo documentário do Sepultura, também participou do projeto e contribuiu com sua experiência no cinema.

“Os profissionais que foram chegando no projeto e interagindo para isso tudo acontecer são profissionais desse mundo do teatro e do cinema… Essa mistura foi muito feliz para a gente e isso enriqueceu muito o projeto, porque são pessoas experientes que tinha o desejo de misturar essas linguagens. Então, desde a coreografia, as edições dos vídeos, a produção como um todo, todas as mulheres que foram entrando no projeto e dando palpite, contando suas experiências e de alguma maneira ajudando a gente a modelar todo esse processo e o resultado final dessa história que é o ‘Doze Flores Amarelas’,” disse Branco.

Esta união de linguagens proporcionada pelo Titãs resultou em um palco pomposo, recheado de projeções, cenário e iluminação, que ajudam a história das Marias a se desenvolver. Evidente que há um valor agregado a uma apresentação deste porte e para tudo isto acontecer o custo é alto. Essas questões poderão impactar uma futura turnê, já que a banda não pretende desmembrar a sua ópera-rock, que é tão singular, para levá-la a outras cidades.

“A gente vai tentar preservar tudo que a gente registrou no DVD. Quer dizer, o palco tem que ser em dois níveis, tem um andaime, tem umas passarelas, tem as projeções, tem o cubo e a gente não tem como abrir mão disso. Então, a gente vai ter que tocar em lugares que se adequem a isto. Talvez o ingresso tenha que ser um pouquinho mais caro…,” explicou Britto.

Tony Belloto ainda comentou que “Doze Flores Amarelas” nasceu como um projeto visual, um DVD, o que deixa ainda mais claro a intenção dos Titãs em levar o espetáculo para a estrada exatamente da maneira como ele foi concebido. “Tem uma coisa interessante na nossa ópera-rock. Em um sentido, ela foi inédita de todas as óperas-rock do mundo! Porque as grandes óperas-rock que a gente conhece, como “Tommy” e “Quadrophenia”, do The Who, “The Wall”, do Pink Floyd, “American Idiot”, do Green Day, elas sempre chegam primeiro como discos, né?” disse ele.

“O ‘Tommy’, que é o melhor exemplo que a gente tem disso… O The Who tem filme e tudo mais e é genial, uma obra prima, mas eles nunca fizeram um show em que as duas coisas tivessem misturadas, a banda como personagem. Eles gravaram agora no Royal Albert Hall o ‘Tommy’ na íntegra, mas é a banda tocando, não tem essa mistura de linguagens. O nosso caso realmente é diferente, particular, não é porque é brasileiro que não possa ter um traço de originalidade forte. Pode ser bom ou ruim, mas é verdade. Mas é bom (risos)” complementou Britto.

Diante de algo tão inovador e caprichado, restou à banda uma série de boas surpresas e a sensação que não era experimentada há muito tempo. “Me surpreendeu muito a maneira como a gente se entregou na feitura do trabalho. Era uma coisa que realmente eu não me lembrava… Sei lá, só no começo da banda que eu me lembro de ter tanto entusiasmo por está fazendo uma coisa,” disse Bellotto.

“Eu confesso que eu fiquei surpreso com uma coisa que eu só reparei pra valer quando vi o DVD pronto, que é com a performance das três cantoras, Corina Sabbas, Cyntia Mendes e Yas Werneck. Elas tiveram uma entrega muito grande e elas eram personagens durante a encenação. Quando você vê os closes, as caras e o jeito em que elas interpretaram as músicas, você vê que elas estavam atuando mesmo e eu nunca tive essa experiência. É muito bacana ver isso acontecer junto com a música que você fez,” concluiu Sérgio Britto.

As vinte e cinco faixas de “Doze Flores Amarelas” já estão disponíveis em todas as plataformas digitais e os atos 1 e 2 também já podem ser assistidos no canal oficial do Titãs no YouTube.

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Fonte: http://portalrockline.com.br/rl-entrevista-titas-fala-sobre-a-opera-rock-doze-flores-amarelas-e-reafirma-seu-pioneirismo-na-musica-nacional

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