Guns N’ Roses: “Appetite For Destruction” completa 30 anos e permanece como um dos álbuns mais “perigosos” da história

Antes de todo o drama, o Guns N’ Roses era uma pequena banda de rock and roll. Durante essa explosão inicial, eles criaram um dos mais emblemáticos, para não mencionar um dos álbuns mais vendidos de todos os tempos, “Appetite for Destruction”, que completa 30 anos neste 21 de julho. Embora a história da banda tenha começado com um pouco do mesmo cabelo e olho delineado como muitos dos roqueiros da Sunset Strip daquela época, eles estavam um passo à frente e sabiam que não queriam acabar como dezenas de outros grupos. A inteligência adquirida nas ruas, a alegria e a quantidade certa de sujeira substituíram o glam e colocaram o Guns N’ Roses como os principais astros do hard rock do anos 1980.

Os tempos antes de “Appetite”

Da cena que rolava em Los Angeles, surgiram duas bandas chamadas L. A. Guns e Hollywood Rose, ambas até então desconhecidas, mas que já ensaiavam repertório próprio. Em 1985, as bandas se fundiram para formar um único grupo e, depois de algumas substituições, chegaram ao line-up clássico do Guns N’ Roses, com Axl Rose (vocais), Slash (guitarra solo), Izzy Stradlin (guitarra base), Duff McKagan (baixo) e Steven Adler (bateria).

No ano seguinte lançaram o EP independente “Live Like A Suicide”, que despertou o interesse de algumas gravadoras. A Geffen Records faturou a parada e propunha à banda para que Paul Stanley (KISS) produzisse o álbum. Porém, os integrantes de temperamento difícil se conectaram com o produtor Mike Clink, responsável por moldar o ataque sônico de “Appetite For Destruction” para as massas.

A banda era composta de cinco jovens de personalidades fortes, hábitos nada saudáveis como alto consumo de drogas, doses cavalares de álcool e sexo sem limites. Porém, todos nutriam a vontade de fazer música pesada com qualidade e provar que todo o investimento da Geffen valeria a pena.

Gravando a obra definitiva de suas vidas

A banda começou a gravar o álbum no Rumbo Studios em janeiro de 1987. Certa de que obteriam lucro, a Geffen disponibilizou uma bagatela equivalente a R$ 370 mil, valor astronômico para um disco de estreia. Em uma entrevista à Triple M Radio, Slash lembrou o processo de composição: “As músicas aconteceram tão rapidamente, quase se escreveram sozinhas, honestamente. Eu sei que Axl sempre foi muito, muito consciente sobre suas letras e até poderia ter passado mais tempo escrevendo. Mas os arranjos e a própria música ficavam prontos em espaço de uma hora praticamente”, lembrou o guitarrista.

Foram usados equipamentos analógicos, buscando um som vintage dos anos 1960 e 1970. Uniram as irreverências e o aspecto festeiro do hard rock californiano à qualidade técnica e consistência de riffs e solos. Para Slash, seu tom foi o resultado da engenharia americana, juntamente com seu desejo singular de misturar o blues com heavy metal. Axl impressionava ao alcançar notas agudas com agressividade, acrescentando sujeira e peso às faixas. Duff e Adler formavam uma cozinha pesada e precisa, que fornecia base para Izzy e Slash nas guitarras e Axl nos vocais. Além da imagem de bad boys, o Guns era, sobretudo, uma banda muito entrosada.

A banda reuniu um arsenal impressionante de 12 grandes músicas para sua estreia. Desde o estrondo de abertura com “Welcome To The Jungle” até as notas finais de “Rocket Queen”, o trabalho foi moldado de forma visceral e pesada. Canções como “Mr. Brownstone” e “Nightrain” estavam longe das letras pueris de bandas como Poison e Mötley Crüe e, musicalmente, a banda estava tinindo.

A história por trás daquele som de guitarra peculiar

Slash chamou a atenção do público e da mídia por trazer de volta um estilo clássico, baseado nos guitar heroes dos anos 1970. Era a velha combinação de Gibson Les Paul e Marshall. Porém, o que torna essa história interessante é que a guitarra que ficou famosa junto com Slash não era uma Gibson. À época das gravações, Slash se viu obrigado a vender sua Les Paul devido ao alto consumo de heroína, ficando assim com apenas três guitarras que não soavam bem nos alto-falantes.

“Eu estava determinado a fazer com que o som da minha guitarra ficasse perfeito no disco. Mas não sabia como conseguir esse milagre, por que estava, digamos, na maior pindaíba. Tentei amenizar como me sentia durante aquelas gravações de faixas básicas bebendo muito e adiando o inevitável enquanto tocava com a banda, sabendo que, de algum modo, teria de resolver aquilo e gravar de novo todas as minhas partes”, Slash disse certa vez.

É nesse momento que entra em cena Alan Niven, que consegue a réplica de uma Les Paul feita por um luthier muito talentoso chamado Kris Derrig. Esta guitarra traduziu em som o que Slash procurava e chegou em tempo de ser utilizada para as gravações dos solos do disco, uma vez que as bases já haviam sido gravadas com guitarras B.C. Rich Warlock, Firebird e Jackson, todas de menor qualidade. A guitarra feita por Derrig é uma burst, réplica da Gibson Les Paul 59, porém com captadores Seymour Duncan Alnico Pro II e o braço similar ao da Gibson 58, um pouco mais grosso, que segundo alguns confere um som especial.

O que Slash não imaginava é que aquele som se tornaria icônico e nunca mais seria reproduzido, nem mesmo por ele, em outros discos.

O cenário na América antes da chegada de “Appetite” às lojas

Em junho de 1987, o número 1 da Billboard era “The Joshua Tree”, do U2. Os cinco postos subsequentes eram ocupados por bandas de metal que atraíam o mesmo público que o Guns N’ Roses: Whitesnake, Bon Jovi, Poison, Mötley Crüe e Ozzy Osbourne. Em outras palavras: se o Guns tentasse seguir o plano dos outros hitmakers do metal, que tinham como fan-base muitas adolescentes, eles teriam sido apenas uma nota de rodapé na história.

O tom da guitarra de Slash era um sintoma do desejo da banda em produzir um som não polido. A abordagem retrô funcionaria a seu favor, já que o rock and roll vinha sendo reconfigurado desde 1986. Para o engenheiro de som Steve Thompson, “Appetite” foi o último registro de rock que foi completamente mixado manualmente. “Este trabalho incorporou o espírito do rock and roll inicial, que incitava a juventude para orgias e violência”, concluiu.

A MTV havia reduzido a rotação de clipes de rock entre 1984 e 1986 quando o hard rock americano – com exceção do retorno do Aerosmith – estava praticamente em estado vegetativo. Mas ainda faltava uma banda para tomar as rédeas do cenário de forma genuína. Se Nikki Sixx posicionava o seu Mötley Crüe como “a fantasia das pessoas”, o Guns estava determinado a ser “o pesadelo”.

A capa controversa

Antes de ser liberado para os consumidores, “Appetite” já chegara causando polêmica por conta da capa. Muitos varejistas se recusaram a comprar o álbum com a artwork concebida por Robert Williams. O “conteúdo violento” retrata a interrupção de um estupro robótico por um anjo de metal vingador. “Eu sugeri que eles viessem à minha casa e olhassem outras opções para a capa porque eu sabia que eles teriam problemas”, disse o designer.

E na verdade eles toparam o pedido. A Geffen rapidamente os forçou a encontrar uma capa substituta. Eles finalmente se estabeleceram em um projeto de caveiras animadas feitas por Billy White Jr. que se tornou um logotipo da banda pelos anos seguintes.

A (demorada) escalada de “Appetite” ao topo dos charts

O álbum estreou na modesta 182ª posição e até outubro de 1987 havia vendido penas 150 mil cópias. O Guns N’ Roses sentiu-se como mais uma promissora banda de hard rock condenada a permanecer no ostracismo e relegada a fãs do estilo em vez de alcançar as massas. A imagem decadente e a confusão inveterada com álcool e drogas não pareciam prontas para serem digeridas. Além disso, a estratégia de promoção da Geffen Records, que os viu atraentes em primeiro lugar para os principais fãs de hard rock e metal com os primeiros singles, “Its So Easy” e “Welcome To The Jungle”, pode ter sido desnecessariamente conservador.

“Welcome To The Jungle” foi o primeiro videoclipe da banda a ter boa rotação na MTV e fez com que o single alcançasse a 7ª posição na parada americana no primeiro semestre de 1988. Mas a sorte do Guns N’ Roses começou a virar com o lançamento da terceira faixa de trabalho. “Sweet Child O’ Mine” levou o grupo ao topo da lista de singles norte-americana pela primeira vez. Com o clipe em alta rotação na MTV, associado às confusões que arrumavam nas turnês, o interesse pelo Guns aumentou consideravelmente na América.

Independentemente das circunstâncias, o trabalho de estreia do Guns era como o “Nevermind” do Nirvana: um inimigo imparável, destinado a romper todos os obstáculos negativos do negócio da música (e do senso comum) através da força total da aclamação pública. Foi assim que em setembro de 1988 – 57 semanas após seu lançamento -, “Appetite For Destruction” chegou ao topo da Billboard 200. Até o fim daquele ano, a banda já havia vendido 6 milhões de cópias somente nos Estados Unidos.

O legado

Três décadas depois, “Appetite” já vendeu mais de 30 milhões de cópias em todo o mundo (sendo 18 milhões nos Estados Unidos, de acordo com a Recording Industry Association of America), o que faz dele o 11º álbum mais vendido de todos os tempos. No entanto, o projeto quase foi enterrado pelos programadores da MTV, geralmente avessos ao risco. As rádios resistiram bastante até tocá-lo em suas programações. Críticos de rock tentaram ignorá-lo, mas algumas das histórias que estão por trás da ascensão de “Appetite” são meramente lendas em torno de um grande álbum do nosso tempo.

“Appetite” gerou três hits Top 10 – “Welcome To The Jungle”, “Sweet Child O’ Mine” e “Paradise City”, que alcançou a 5ª posição -, e deixou uma coleção de canções memoráveis. Sobre seu trabalho de estreia, Slash comenta: “‘Appetite’ não é o que eu chamaria de meu disco preferido, mas é um bom registro que foi feito no momento em que tudo estava acontecendo”. Já Axl Rose, em entrevista à MTV em 1988, disse: “Eu só quero enterrar o ‘Appetite’. Eu gosto do álbum, mas estou cansado disso. Não quero viver minha vida somente por causa deste álbum”.

O tempo provaria que isto seria difícil, pois a banda, sob qualquer forma, provavelmente nunca superaria sua obra-prima.

Comemoração dos 30 anos

O Guns N’ Roses celebrou o aniversário de 30 anos de “Appetite For Destruction” com um show especial, exclusivo para convidados e assinantes da rádio SiriusXM na noite desta quinta-feira (20) no famoso Apollo Theater. Esta foi a primeira vez que banda tocou no local e o evento foi transmitido ao vivo pelo canal do apresentador Howard Stern, o Howard 101 channel, e pela Guns N’ Roses Radio. O show permanecerá online no site siriusxm.com até este sábado (22). Além do show, o canal exibe toda a discografia, incluindo raridades, faixas ao vivo e músicas de artistas que influenciaram a banda. Abaixo, alguns telões dispostos em Nova York com o anúncio da comemoração especial:

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