A história de “Helter Skelter”, canção dos Beatles que Charles Manson achava ser um recado para si

Responsável por esfaqueamentos que chocam os Estados Unidos há quase 50 anos, mesmo sem ter sujado as mãos com uma única gota de sangue, Charles Manson morreu neste domingo (19), aos 83 anos. Desde o fim de semana, seu nome é um dos assuntos mais comentados no Twitter e lançou um debate sobre um dos criminosos mais perturbadores e famosos da história americana – especialmente entre jovens que não conheciam o vínculo de sua seita com a tensão racial nos Estados Unidos, reacesa recentemente por eventos como a marcha racista de Charlottesville, em agosto, ou os assassinatos por policiais que deram origem ao movimento Black Lives Matter.

As mortes foram resultado de uma tese apocalíptica de Manson, que dizia acreditar que brancos e negros travariam uma disputa sem precedentes nos Estados Unidos. Em suas pregações, ele dizia que o White Album (Álbum Branco), dos Beatles, – e em especial a música “Helter Skelter” – seria uma espécie de quebra-cabeças com revelações codificadas sobre a iminência do confronto racial pelo poder na América. No final desse conflito, segundo Manson, ele surgiria como um messias para o povo americano.

“Helter Skelter” foi lançada em 1968 e ao longo dos anos foi regravada por vários artistas, entre eles Aerosmith, U2 e Oasis. Para muitos, o marco inicial do heavy metal. Como foi que uma música concebida apenas para ser uma diversão barulhenta, acabou se tornando uma fonte de inspiração de alguns dos crimes mais chocantes dos Estados Unidos no século passado? Vamos recapitular brevemente este trágico episódio, desde a concepção da canção até os trágicos crimes liderados por Charles Manson.

Esta é música mais barulhenta, crua e suja que já gravamos
Pete Townshend, do The Who, sobre sua música “I Can See For Miles”.
Seria ótimo fazer uma música assim…
Paul McCartney, ao ler a entrevista de Townshend.
É totalmente Paul… não tem nada a ver com nada, e menos ainda comigo…
John Lennon, sobre “Helter Skelter”.
I’ve got blisters on my fingers!!! (Estou com bolhas nos meus dedos!!!)
Ringo Starr, baterista dos Beatles, gritando ao final de “Helter Skelter”.
Por causa desta música eu perdi minha mulher
Roman Polanski, cineasta, sobre “Helter Skelter”.
Esta é uma canção que Charles Manson roubou dos Beatles, e nós estamos roubando de volta
Bono, vocalista do U2, ao anunciar “Helter Skelter”, no filme “Rattle And Hum”.

Em entrevista à revista Guitar Player em 1967, Pete Townshend, guitarrista e líder do The Who, afirmava que “I Can See For Miles”, do álbum The Who Sell Out, era a canção mais “barulhenta, crua e suja” que eles já haviam gravado. Instigado pela declaração, Paul McCartney resolveu ouvi-la mais atentamente, pensando em como seria divertido fazer uma canção seguindo tais parâmetros. Em seu modo de ver, a música do The Who era até que bem sofisticada e estruturada, longe do caos que a tal declaração poderia sugerir. Desafiado a gravar algo realmente barulhento, ele escreve “Helter Skelter” (que foi creditada à dupla Lennon – McCartney, como todas as canções que qualquer um deles compusesse, mesmo que isoladamente, dentro da banda). O termo em inglês significa “confusão fora de controle”.

Mas para os britânicos era também o nome de um popular tobogã que era sucesso em parques de diversões. A letra da música traz em sua primeira estrofe justamente uma descrição do que seria uma volta no tal brinquedo: “When I get to the bottom I go back to the top of slide, where I stop, and I turn, and I go for a ride, till I get to the bottom, and I see you again…” (“Quando eu chego ao fundo, eu volto ao topo do escorregador, então eu paro e me viro e dou uma volta, até que eu chegue ao fundo e lhe veja de novo…”).

Uma letra boba e despretensiosa, mas que gerou ao longo dos anos as mais diversas interpretações. Segundo Paul, a princípio a ideia seria de uma música sobre a ascensão e queda do Império Romano, usando metaforicamente a imagem do tobogã, mas que no final acabou sendo “apenas uma canção ridícula e divertida, que nós gravamos por gostar do barulho”. Para alguns grupos radicais religiosos, a canção abordava a descendência ao inferno, mostrando alguém numa tentativa de escapar de suas profundezas e não conseguindo – baseando tal teoria em metáforas estapafúrdias e no vocal “desesperado” de Paul. Já para o sociopata Charles Manson, os tais versos iam bem mais além…

Dentre os atos pouco ortodoxos difundidos por ele estão a máxima nazista da supremacia da raça branca, a separação das crianças de seus pais, invasão e saque de residências e lixos de supermercados, além de orgias regadas a muito LSD entre seus membros. Depois de algum tempo, Manson acha uma nova fonte para suas idéias insanas: ele acredita que os Beatles são os cavaleiros do apocalipse que vieram à Terra anunciar o fim do mundo através de suas músicas. E para ele tudo estava claro em várias de suas canções, principalmente as do White Album, que formariam um grande apanhado com as tais mensagens que só ele via.

Ainda que os próprios Beatles sempre tenham manifestado o seu horror pela associação a um dos mais infames serial killers da história (“É perturbante estar associado a algo tão nojento”, afirmou George Harrison), Charles Manson manteve a sua teoria e seguiu em frente com sua seita, cuja série de crimes teve seu ápice com o assassinato da atriz Sharon Tate, e seus amigos. Tate, em seus últimos dias de gravidez e esposa do cineasta Roman Polanski, promovia uma festa em casa com alguns amigos. A “Família” liderada por Manson consegue invadir o local e promove uma chacina sem precedentes. A atriz, para se ter uma idéia da covardia, faleceu com dezesseis facadas, onde cinco delas já seriam fatais isoladamente, segundo a perícia. Com o sangue de suas vítimas, os assassinos escrevem nas paredes palavras como “Helter Skelter”, “Political Piggy” (referência a “Piggies”, chamando as vítimas de “porcos políticos”) e “Arise” (extraída da letra de “Blackbird”). Curiosamente, um dos membros da “Família” atendia pelo apelido de “Sexy Sadie”, mesmo nome de uma das músicas do “Álbum Branco”.

Charles Manson foi condenado à pena de morte, mas devido a uma alteração nas leis da Califórnia (que aboliu este tipo de condenação) teve sua sentença alterada para prisão perpétua. E infelizmente, ao que parece, ele fez escola, afinal o que já surgiu de doidos nesses quase 50 anos, matando ou se suicidando, dizendo terem sido influenciados por músicas e filmes…

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